terça-feira, 4 de agosto de 2009

Uma nova visão para Coimbra

Uma aposta no “fomento de uma prosperidade com solidariedade” e a promoção de “uma qualidade de vida que seja referência em Portugal” são as prioridades do programa da candidatura socialista à Câmara de Coimbra, encabeçada pelo independente Álvaro Maia Seco, que, em entrevista ao “Acção Socialista”, se afirma convicto de que é possível aplicar uma “nova visão” para Coimbra. O candidato do PS promete ainda “todo o empenho na prossecução do programa apresentado, numa postura de total transparência e comunicação com os munícipes e investidores”.

Quais as razões que o levaram a aceitar o desafio de ser o candidato independente pelo PS à presidência da Câmara de Coimbra?
A convicção de que integrado na candidatura patrocinada pelo PS será possível propor e, eventualmente, aplicar uma nova “visão” para Coimbra.

Quais as prioridades do seu programa eleitoral?
Uma aposta sem hesitações no fomento de uma prosperidade com solidariedade e igualdade de oportunidades e uma aposta na promoção de uma qualidade de vida que seja referência em Portugal mas no respeito pelo seu rico património natural e edificado e pelo ambiente.

Em que traves-mestras assenta o seu projecto para colocar de novo Coimbra no lugar a que tem direito como terceira cidade do país?
Aposta numa política pró-activa de ordenamento do território baseada na lógica de construção de uma cidade “compacta”.
Investimento na qualificação dos jovens e no desenvolvimento de uma política cultural coerente.
Aposta na potenciação dos factores de competitividade do concelho para suporte de um desenvolvimento económico sustentável.
Preocupação permanente com o apoio social aos mais necessitados, nomeadamente aos mais idosos que muitas vezes estão mais desacompanhados e vulneráveis.

Que papel desempenhará a câmara, caso seja eleito, no apoio social aos estratos mais vulneráveis da população para enfrentar a actual crise?
Será feito um acompanhamento e minimização permanentes dos problemas ligados ao desemprego e dificuldades de entrada no mercado de trabalho, nomeadamente através da promoção transitória do emprego social a criar pelas Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS).
Como atrás foi já referido será tido um particular cuidado e carinho com os mais idosos que se encontram em situação particularmente vulnerável.

Que avaliação faz deste mandato de Carlos Encarnação, do PSD, à frente da autarquia?
Prefiro referir que tenho a convicção de conseguir desenvolver o próximo mandato com uma maior capacidade de inovação, planeamento e concretização, iniciando assim um novo ciclo de prosperidade e afirmação para Coimbra.

Como pensa convencer os munícipes que tem um projecto melhor que o do actual presidente da câmara?
Com uma apresentação de uma equipa competente e credível e a apresentação de um programa ambicioso e realista e que se dirige às áreas prioritárias de intervenção de uma câmara municipal de modo a potenciar um desenvolvimento económico e uma qualidade de vida sustentáveis para as próximas décadas.

Vai dinamizar, durante a campanha, fóruns de intervenção política e de cidadania?
Isso já está e irá continuar a acontecer nas áreas da juventude, cultura, associativismo, desporto entre outros.

Como está a pensar utilizar as novas ferramentas de comunicação para mobilizar o eleitorado?
Temos uma equipa a trabalhar a desenvolver produtos e veículos de comunicação baseados nas novas tecnologias que viabilizarão um contacto muito próximo e interactivo com os cidadãos de Coimbra.

O que podem esperar os munícipes de Álvaro Maia Seco à frente dos destinos do município?
Podem esperar de mim todo o empenho na prossecução do programa apresentado, numa postura de total transparência e comunicação com os munícipes e investidores.

Entrevista a Álvaro Maia Seco, candidato do PS à presidência da Câmara no Acção Socialista

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Coimbra precisa de uma revolução

Álvaro Maia Seco já tem ideias concretas para colocar em prática se for eleito. Entretanto,
O candidato do PS à Câmara de Coimbra teme que o iParque vire um “elefante branco”

Diário de Coimbra – O que é que o levou a aceitar o convite do PS ?
Álvaro Maia Seco - Duas questões essenciais. Por um lado tenho sido uma pessoa com intervenção pública significativa. Quem me conhece sabe que tenho ideias para a cidade, e portanto, estou convencido que consigo definir um projecto que eu julgo que é aliciante, e que possa ser considerado credível pelos cidadãos de Coimbra. Depois, estou claramente convencido, modéstia à parte, de que sou capaz de fazer melhor do que tem sido feito. A cidade precisa de um novo impulso, de uma nova equipa a pensar os problemas e a definir projectos e portanto achei que o convite era irrecusável.

DC Que ideias são essas, então, que tem para Coimbra?
AMS Baseiam-se numa visão para a cidade muito simples, mas muito ambiciosa, que é, claramente, que Coimbra pode e deve ter nas próximas décadas um desenvolvimento significativo. Ser uma cidade próspera, mas ao mesmo tempo – e isto é muito importante, e isso é uma das marcas distintivas desta candidatura – uma cidade e um município solidários. Ou seja, temos de ter prosperidade, devemos acarinhar os empreendedores, as pessoas que produzem riqueza, mas temos de ser capazes de ajudar as pessoas que não têm tanta sorte, e que portanto, precisam de apoio. E além disso, e para mim também é muito importante, é preciso, de facto, e não apenas teoricamente, garantir a igualdade de oportunidades para as pessoas. E isto passa nomeadamente por garantir uma formação sólida por parte dos jovens, para que eles depois quando tiverem que aceder ao mercado de trabalho, tenham, pelo menos tido as mesmas oportunidades e tenham tido o mesmo nível de formação que têm os que têm a sorte de nascer numa família mais rica e, portanto, que, desse ponto de vista, têm mais sorte.

DC Essa é uma competência, à partida, do Governo.
AMS É verdade, mas na acção da formação, eu acho que a Câmara pode fazer várias coisas. Deve assumir que uma parte do seu Orçamento é dedicada ao apoio directo à qualidade do ensino, ao apoio aos jovens que são apanhados mais cedo em problemas de aproveitamento escolar. Dando meios e dando apoio logístico. Há uma terceira área que me parece importante, que é na divulgação e na promoção da cultura e da divulgação científica junto dos jovens, eu julgo que a Câmara pode logisticamente, por exemplo, criar boas condições de deslocação, de mobilidade dos jovens, e por outro lado, apoiando a produção cultural dirigida para esta função, pode fazer com que todos os jovens tenham um contacto frequente com actividades culturais, com actividades de divulgação científica, no âmbito das suas actividades extracurriculares, ao longo do ano lectivo. Repare, eu tenho muito orgulho que algumas das nossas escolas, públicas e privadas, sejam de excelência a nível nacional. O que tenho pena é que ainda haja demasiadas escolas cujo aproveitamento que se vê nos exames nacionais ainda não está ao nível do que podia ser. Por outro lado, não quero que alguém em Coimbra deixe de estudar e de chegar o mais longe possível só porque não tem apoio suficiente, e portanto acho que a Câmara, em colaboração naturalmente com os serviços oficiais, pode fazer uma discriminação positiva, claramente, a este nível.

DC E outras áreas de investimento? A sua área de raiz tem a ver com o planeamento e foi o autor de um estudo sobre mobilidade para o concelho.
AMS Sim, e há muitas soluções na área da mobilidade que têm a ver com estudos que eu fiz. Agora, infelizmente, eu esse estudo não o acabei, porque tinha três fases: uma fase de diagnóstico, uma fase de grandes opções e depois a conclusão, e a verdade é que a Câmara, já foi esta Câmara, não quis nunca aprovar ou reprovar as grandes opções que tinham sido propostas, E por isso é que eu acho que a política de mobilidade da Câmara é coxa, porque não leva até às últimas consequências as suas opções.

DC Numa entrevista que nos concedeu recentemente falava, na qualidade de líder da Metro Mondego, da ligação entre a mobilidade e o ordenamento.
AMS É uma questão absolutamente chave. Eu aliás tenho falado no conceito de “cidade compacta”, de “aglomerados compactos”. Portanto, o conceito “compacto” é de proximidade, os espaços ocupados por todos nós devem estar dentro de uma lógica de alguma proximidade. Por exemplo, para que eu, quando quero ir à mercearia do bairro, não tenha permanentemente que pegar no carro e ir de carro, e possa fazê-lo a pé. Isto é uma questão de proximidade. Se as pessoas vivem muito afastadas umas das outras e afastadas dos locais onde os autocarros param, depois eu não consigo convencer as pessoas a andar de autocarro. Ou seja, eu não quero forçar as pessoas a aceitar um serviço de transporte colectivo de má qualidade. Não, o que eu quero é que nós criemos as condições do ordenamento do território para que a Câmara tenha as condições financeiras para oferecer serviços de transporte colectivo de grande qualidade.

DC Mas como passa do conceito para a prática ?
AMS Pela positiva, e aliás uma das propostas que eu tenho para fazer é exactamente esta, e deixe-me ver se consigo explicá-la com algum cuidado. Eu quero identificar no município todo, quer na zona mais urbana, quer na zona suburbana, quer nos lugares mais rurais, quero identificar pelo menos três dezenas de lugares ou bairros com algum potencial interessante. E nesses lugares, o que a Câmara vai fazer custa algum dinheiro mas não é muito. É fazer um plano integrado de recuperação daqueles espaços, de crescimento orgânico, de qualidade, com a tal solução mais compacta, mais próxima, para o crescimento. Porque, repare, nós não queremos que as pessoas venham todas viver para o centro de Coimbra, queremos é que as pessoas que gostam de viver em Cernache, por exemplo, que têm lá família, que sempre viveram lá, eu quero que elas continuem a viver lá. O que não quero é que elas vão fazer a casa dois quilómetros ao lado de Cernache, porque depois eu não tenho dinheiro para lá meter o esgoto, e a água e o transporte público, não há dinheiro para isso. Eu quero é que as pessoas possam ter um local onde possam contruir a sua casa com uma lógica de proximidade. E portanto vou fazer, se tiver a honra de ganhar as eleições, este estudo, estes trabalhos todos. E estes trabalhos vão ser feitos em muito apertada colaboração com as Juntas de Freguesia, mas também com os moradores dos locais. E, como é de imaginar, destes trinta eu tenho a esperança que haja dez ou doze ou quinze sítios onde as pessoas participem a sério, e onde seja possível rapidamente chegar a soluções integradas, consensualizadas. E eu prometo que, em quatro anos, nós fazemos uma revolução nesses locais. Mas não são intervenções casuísticas, numa coisa ou noutra. Se for preciso fazer uma pequena variante para tirar o tráfego de atravessamento da localidade, faz-se, se for preciso criar um pequeno largo onde possa estar um café do bairro e onde possa haver um pequeno espaço verde para os miúdos jogarem à bola, faz-se isso…portanto, é intervir integradamente. Mas é para depois, daqui a quatro anos, se estivermos a ter esta conversa, eu poder dizer às pessoas dos outros aglomerados “vão àquele aglomerado, àquele lugar ou àquele bairro e vejam a diferença de viverem num bairro como o vosso ou viverem num bairro onde as coisas são bem feitas”. Um dos males desta nossa sociedade, que é uma das heranças de Salazar e que ainda não foi corrigida, é o facto de muitas pessoas não exigirem bom urbanismo, porque não sabem que têm direito a bom urbanismo. Eu não tenho ilusões, de que há bocado falou e muito bem, de que há um problema: a Câmara tem recursos finitos, mas esses recursos finitos podem ser aproveitados de forma muito inteligente. Ou seja, se nós soubermos onde queremos chegar, podemos planear como deve ser como é que lá vamos chegar, e portanto, haverá coisas que não vão ser feitas em quatro anos, mas eu tenho a esperança que muitas sejam feitas em quatro anos, e muitas mais eventualmente em oito. Porque, claramente, deixe-me dizer, qualquer projecto na área do ordenamento do território tem de ter um horizonte na ordem dos dez anos para funcionar. Em menos de dez anos não se faz uma revolução numa cidade. E nós precisamos de uma revolução na cidade.

DC Há alguns projectos de alguma dimensão que estão em curso em Coimbra, um já mais avançado, como é o caso da recuperação do Convento, há outros mais parados, o caso dos tribunais, da cadeia. Qual é a sua posição relativamente ao que tem sido a política da Câmara nestes casos ?
AMS Em relação aos investimentos que dependem do poder central, acho que a Câmara tem de ter uma posição reivindicativa em relação a eles. Mas, mais uma vez, deixe-me dizer, não podemos perder a razão por não fazermos a nossa parte. Por exemplo, o Pediátrico, que demorou alguns anos, está em vias de estar acabado, mas a parte dos acessos, que são da responsabilidade da Câmara, não estão feitos. Ora, como é que eu posso reivindicar perante o Governo Central quando eu não faço a minha parte? Não faz sentido. Agora, se ela tivesse sido a primeira a fazer os acessos, e estes tivessem ficado prontos a horas, tinha muito mais autoridade para chegar junto do Governo Central e dizer “nós fizemos a nossa parte, façam a vossa”. Perdemos a razão.

DC Por exemplo, no caso da cadeia, o que é gostava de ver ali ?
AMS Não tenho ideias seguras sobre isso. Acho, claramente, que faz algum sentido que uma pequena parte do espaço seja aproveitada para a criação de um espaço residencial onde as pessoas possam viver, mas há um espaço muito nobre que é a parte do edifício principal da cadeia e a zona envolvente que não deve estar sujeito a acções de rentabilização do terreno, têm que ter o equipamento que for considerado o melhor para lá. E eu tenho que admitir, ainda não tenho a certeza, isto tem que ser estudado com atenção. Agora, há outros espaços envolventes na zona da cadeia que eventualmente podem ser afectos a, por exemplo, alguma construção residencial. A alta da cidade beneficia se mais algumas pessoas forem viver para lá e portanto parece que é possível, com algum equilíbrio, ter as duas coisas. Quando vejo o Ministério preocupado com o seu património, isso não me preocupa à partida. Agora, não é aceitável pensar em ocupar aquilo tudo com promoção imobiliária só para rentabilizar a construção da nova cadeia. Isso claramente está fora dos meus horizontes. Mas deixe-me falar-lhe desta minha preocupação com a rentabilização. No iParque faz-me alguma confusão como é que nós chegamos à fase de inauguração do iParque com doze milhões investidos e ainda não há nenhuma empresa a instalar--se no iParque. Isto significa que vamos ter um custo de manutenção muito significativo que não está a ser amortizado. Alguma coisa falhou. Se calhar pode ter havido algum azar porque caiu no meio da crise internacional mas não pode ser só isso. Acho que faltou ali um plano de exploração porque quando nós decidimos fazer um destes grandes projectos, um grande investimento, não basta fazer o projecto da infraestrutura dos edifícios, é preciso fazer um plano de exploração. É pôr alguém especialista a pensar e dizer assim: nos dois primeiros anos de funcionamento do equipamento o que é que se vai passar, que actividades é que vão ser oferecidas, quanto é que isso vai custar, que receitas é que isso vai criar ? Não é ser economicista, não é dizer que nesses dois anos o equipamento tem que se pagar a si próprio, não. Temos é que perceber, antes de o fazer, como é que ele vai funcionar porque muitas vezes arriscamo-nos a criar os chamados elefantes brancos.

DC E acha que o iParque é um elefane branco ?
AMS Ouça, eu espero que não seja. Mas, neste momento, é uma situação que merece um cuidado particular porque não é aceitável. Porque a infraestrutura degrada-se se não estiver usada, utilizada, se não estiver mantida e portanto aquilo vai ter custos significativos. Eu acho que foi um projecto ambicioso, com grande qualidade urbanística mas isso significa que também tem custos de manutenção maiores e portanto alguém vai ter que os manter. Se a situação se prolongar por muito tempo arriscarmo-nos a ter um elefante branco. Eu espero que não, mas o que não quero é que isto se repita e, por exemplo, foi anunciado agora e eu também fico muito satisfeito que o Convento de São Francisco vai ser reabilitado. Mas eu gostava de saber se há um plano de exploração para o futuro espaço de congressos do Convento São Francisco, ou seja, devíamos ter agora um horizonte, saber mais ou menos quando é que vai estar pronto e não há razão, por exemplo, se aquilo vai dar apoio a congressos, não há razão nenhuma para que não comecemos a pôr alguém a tentar captar os congressos para termos uma ideia se quando ele abrir, ele vai funcionar ou não. E mais, eu gostava de ter a certeza que as valências que estão a ser implementadas no Convento São Francisco são aquelas que são necessárias para termos um verdadeiro e eficiente centro de congressos. Repare, mais uma vez, eu não tenho nada contra o projecto São Francisco, fico satisfeito que ele tenha sido objecto de um financiamento QREN mas gostava de ser sossegado de que alguém já fez um plano de exploração, pelo menos para os primeiros dois anos de operação do sistema e que já há uma equipa a trabalhar, a prever, a planear a manutenão da infraestrura e a sua operacionalidade, isto parece-me essencial e já agora, deixe-me dizer-lhe que em relação, por exemplo, ao Convento São Francisco, acho que faz todo o sentido ligar o São Francisco ao Convento de Santa Clara a Nova lá em cima. É tão óbvia a proximidade, porque alguém tem que definir uma utilização para o Convento de Santa Clara-a-Nova também, porque senão qualquer dia, está-se a degradar, não tem utilização e depois estamos a pagar a sua manutenção e não estamos a tirar partido.

DC Estamos a falar de obras, se for eleito o que faz com a Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) ?
AMS Eu acho que a nossa SRU tem um pecado original. Nem a Câmara e se calhar nem o Governo dotaram a SRU dos meios financeiros para assumir o custo social da intervenção. E portanto, não foram dados os instrumentos à SRU para que ela pudesse ter sucesso e portanto não é por acaso que a SRU já tentou vários modelos de promoção e nunca nenhum privado verdadeiramente aceitou o desafio. Porque basta fazer umas contas e os custos de indemnizar os locatários e indemnizar os proprietários são maiores do que os rendimentos futuros com os edifícios requalificados e reconstruídos. Mas digo-lhe que naquele quarteirão que está afectado pelas demolições da Metro Mondego, 90% da propriedade é ou da Câmara ou da Metro Mondego. Ora, neste momento essa zona já pode ser requalificada rapidamente sem um investimento significativo e portanto aquilo que eu acho é que a Câmara deve começar por aí. É o coração da Baixinha. Se se fizer isso, se entretanto avançar a linha do Hospital, aquela zona vai ter uma paragem mesmo no meio desse quarteirão, entre a Rua da Sofia e a Rua Direita. Portanto vai ganhar uma acessibilidade de grande qualidade e eu tenho a esperança que isso possa depois ser a semente para tornar mais atractivo aquele espaço e então aí, com menos custos, podermos atrair o investimento privado para desenvolver a requalificação.

DC Sei que ainda mantém, embora em moldes muito reduzidos, a docência da Universidade de Coimbra. Entende que nos últimos anos se registou uma aproximação entre a Câmara e a Universidade?
AMS Acho que sim. Aliás estive, de manhã, a dar uma vista de olhos na entrevista que o senhor Reitor deu ao Diário de Coimbra e revejo-me completamente no que ele diz. Acho que sim, acho que aquele divórcio total que houve durante muitos anos entre a Universidade e Câmara por desconfianças mútuas, por falta de percepção do que é que o outro tem para dar à outra parte, acho que essa desconfiança total desapareceu. Mas acho que ainda não há o total aproveitamento das sinergias que podem acontecer.

DC O que pode ser ainda feito?
AMS Por exemplo, eu acho que a Câmara pode apoiar o empreendedorismo. É uma coisa de que tenho falado. Mais uma vez dizem-me: “Mas apoiar de que maneira?” Eu acho que a Câmara não tem vocação para ser o identificador dos futuros empreendedores mas pode ajudar a dar algum músculo financeiro, por exemplo, a um IPN para que ele, em vez de apoiar o número de empresas que consegue apoiar agora não possa aumentar esse número de apoios, ou seja, a Câmara pode ser aquilo que os economistas às vezes dizem, o sleeping partner, ou seja, o parceiro adormecido, que acredita no projecto. Não há razão para que a Câmara não se possa associar como um parceiro adormecido mas que dá algum músculo adicional, que tire partido do saber que vai sendo produzido na Universidade. Por exemplo, e não tenho dúvidas e até acredito que a Câmara esteja a fazê-lo também, já agora, dando todo o apoio e toda a prioridade à questão da candidatura a património mundial da Universidade, da Humanidade pela Universidade. É um projecto difícil, que não tem o sucesso assegurado, não é por ser agora com esta Câmara, mas porque cada vez é mais difícil candidaturas a património da humanidade. Mas, ter sucesso nesse empreendimento dá, por exemplo, uma visibilidade ao nível turístico muito importante para a cidade. Tudo o que a Câmara puder fazer no apoio a essa valência é positivo. Por exemplo, o turismo de congressos está subaproveitado em Coimbra, indiscutivelmente. Eu acho que indirectamente a Câmara, promovendo uma oferta cultural e apoiando uma existência da oferta cultural significativa e regular, criando verdadeira qualidade de vida na cidade, mobilidade sustentável, os espaços públicos limpos e agradáveis, toda essa vertente, estimulando e dando apoio à instalação das unidades hoteleiras, que felizmente ultimamente têm aparecido, por essa via é possível apoiar indirectamente, a sério, a capacidade da cidade para atrair grandes congressos. A Câmara pode, por esta via, muito mais do que apoiar os congressos, como costuma ser habitual, por exemplo pagando um jantar de um congresso, deve sim fomentar aquilo onde ela pode verdadeiramente fazer a diferença e só ela pode fazer. Oferecer bons transportes públicos, criar condições para que os hotéis venham para cá, ter bons espaços públicos, promover a oferta cultural. Se a Câmara puder fazer isso torna-se um parceiro muito valioso.

DC Já que fala do turismo, a questão do Aeroporto de Monte Real e do Aeródromo Bissaya Barreto tem sido alvo de alguma discussão nesta fase de pré-campanha.
AMS Primeiro deixe-me falar do TGV. Nas condições em que está previsto, é um projecto estratégico, porque de repente nós vamos ficar a menos de uma hora de Lisboa e do aeroporto de Lisboa e a 35, 40 minutos do Porto e do aeroporto Sá Carneiro no Porto. Ora, isto é uma revolução, porque quando se fala, por exemplo, na organização de um congresso, uma das desvantagens competitivas óbvias de Coimbra, quando se compara com Cascais ou até com a Madeira, é porque se demora muito mais tempo a chegar a Coimbra. Agora, aí a Câmara não pode fazer tudo sozinha, mas pode, por um lado, pressionar para que o TGV seja feito nas alturas certas, mas pode fazer mais coisas, pode apostar na requalificação da entrada Norte, daquela zona da Casa do Sal, até à Estação Velha que é actualmente uma entrada totalmente desqualificada. Nós podemos transformar aquilo numa verdadeira Alameda, que seja a porta de entrada, de visita da cidade. Se a Câmara fizer a sua parte pode dizer ao Estado “meus senhores, nós estamos a fazer a nossa parte, façam favor, façam a vossa também”.

DC E o aeródromo ?
AMS Não tenho a certeza, é um tema absolutamente técnico. O que lhe posso dizer é que se nós ganharmos, irei pedir à mesma equipa que está a estudar Monte Real para alargar o âmbito do estudo, e ver também qual deve ser o papel ou não do aeródromo Bissaya Barreto. Eu não tenho certezas, mas parece-me fazer sentido algumas das coisas que tenho ouvido, ou seja, que vale a pena fazer um pequeno, ou um não muito grande, investimento de prolongamento da pista, em cerca de trezentos metros.

DC A sua equipa está terminada, está pronta? Está satisfeito com ela ?
AMS Basicamente está terminada. E estou genericamente satisfeito. Acho que é uma equipa que é credível. A número dois para o Executivo vai ser a doutora Fernanda Maçãs, que é actualmente vereadora independente, também do PS, o que me dá uma garantia muito grande de eficiência técnica na área jurídica, não apenas de competência mas de credibilidade, que para mim era muito importante. Será com certeza uma vice-presidente da Câmara de grande qualidade. Depois, os seguintes, o terceiro, que vai ser o doutor Vilhena que é uma pessoa que tem uma participação e uma valência na área cultural muito importante e que portanto também dá credibilidade a esse nível. Portanto, genericamente estou satisfeito com a minha equipa. E obviamente o facto de ter o número um para a Assembleia uma pessoa com a craveira da doutora Helena Freitas e com as credenciais ao nível do desenvolvimento sustentável e da modernidade da cidade e do concelho, também é particularmente interessante e particularmente exigente. Porque nós muitas vezes desenvolvemos todas estas grandes ideias e grandes objectivos, mas depois é preciso implementá-los, e tenho a certeza que ela vai ser um garante de nos obrigar a mantermo-nos firmes nesse desígnio, que para mim é muito importante.

DC Finalmente, perguntava-lhe se, caso não seja eleito, é compatível manter-se vereador e presidente da Metro Mondego?
AMS Eu acho claramente que sim, até porque não vejo nenhuma dificuldade. Repare, como eu já disse várias vezes, eu assumo, sempre assumi, que, modéstia à parte, tinha sido convidado pelo meu currículo profissional e não pelo meu currículo político; aliás, devo chamar a atenção de que eu fui eleito por unanimidade de todos os accionistas, incluindo a actual Câmara Municipal de Coimbra, e portanto, não vejo nenhuma razão para que eu não possa, aliás, repare, o meu mandato também termina seis meses depois, terminará no fim de Março do ano que vem, e portanto a questão pôr-se-á muito pouco; mas, não vejo nenhuma razão para, se eu for um vereador sem pelouro na Câmara Municipal, não possa continuar a ser presidente da Metro Mondego, provavelmente por seis meses mais. Mas repare que isso também não me preocupa, de todo, porque, como sabe eu tenho o privilégio de, quando sair da Metro Mondego, volto a ser professor universitário, portanto não estou nada preocupado.

Entrevista ao Diário de Coimbra